terça-feira, 2 de setembro de 2008

a vida inteira que poderia ter sido e não foi


O título já faz com que se instale em mim uma leve nostalgia
e é com o passo leve também que me aproximo das paredes
e as palavras quase imperceptíveis e os traços vão criando vida.

São montanhas,
mapas que mostram caminhos nunca pisados,
são corpos que vão se formando
(ou desconfigurando)

tecido,
pele,
pulmão,
boca,
um útero,
talvez,
que carregaria um possível filho?

talvez..

tantas possibilidades
tantas linhas
fios tecendo histórias
as palavras invadindo os muros
rasgando-os,
fazendo-os sangrar
como se tentassem assim
preencher as páginas da própria vida de Manuel que ficaram em branco.
nunca as palavras foram tão palpáveis
(e ao mesmo tempo não)

e eu que não conhecia muito a história de Manuel Bandeira
nesse momento me senti íntimamente ligada a ele,
por sua dor.
como não sentir?
lendo seus poemas, as paredes de Maíra cada vez mais faziam sentido
e ficou impossível olhar aquele vermelho todo
- toda a brancura -
e não sentir doer em mim também
as rosas desbotando..
por brotarem das paredes de concreto,
nascidas ao contrário.

raízes que cresceram e nutriram-se de espera.
como se os pés
cravados fincados na terra
já cansados
se conformassem.

E quando as paredes de Maíra foram apagadas,
(depois, claro, da forte sensação de vazio.. e de morte, como se não bastasse!)
eu pude finalmente compreender.
o que pra ele, Manuel, era apenas morte
foi adubo.

e as raízes..
que mais uma vez me voltam ao peito, escorregadias
- mesmo as paredes não estando mais lá -
raízes agora se rematerializando enfim de palavras

de vida.

{ Bianca Ziegler,
educadora do MAC desde 08 de janeiro de 2008 }

{{ A exposição A vida inteira que poderia ter sido e não foi, da artista Maíra Ortins, ocupou a sala experimental do MAC entre os dias 30/11/2007 a x/01/2008 }}

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