terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Arte Em Crivo e Jornada de Criação


clique na imagem para amplia-la absurdamente

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

quem é essa tal de arte contemporânea, afinal?

Mal cairam as cortinas da nosso museu para..
tchãran! apresentar a nova exposição
e várias questões e discussões já haviam afolorado pelos corredores,
dentro e fora.

Recebi meu primeiro grupo com aquele friozinho na barriga que sempre dá quando preciso falar de trabalhos que ainda não tenho total apego, que eu nem mesmo tenho certeza do que sinto e penso em relação a eles, e eu já me conformei quando pisei aqui a primeira vez: só tende a piorar.

E é sempre uma questão delicada: falar de arte contemporânea pra quem nem mesmo sabe o que a palavra contemporânea quer dizer.

tempo..
quem não sentiu doer o tempo passando,
os conceitos de técnica e cor mudando,
valores,
ismo isso, ismo aquilo,
tudo diferente e sempre os "mismos"
não entende o quando é louco estar aqui,
na ponta da pirâmide,
ao sabor dos ventos que vêm de todas as direções e com todas as velocidades diferentes e cheiros e gostos e gritos e rostos

tudo se quebrou
não há mastros pra tentar se agarrar,
não há leis éticas noções de sentidos pontos cardeais.

liberdade
inexatidão

- o que é isso?
- só lembrando que eu não tô aqui pra explicar nada,
fiquem à vontade pra sentir,
pra questionar.
- não é obrigado gostar não,
desgostar também faz parte,
- é supimpa!
- o que ele quis dizer?
- pois eu prefiro esse de cabeça pra baixo!
- só lembrando que não pode fotografar com flash aqui dentro do museu
- lá fora também, não vão querer ficar cegando as galinhas, né?
- dá uma pena mesmo
- das penas? ou de mim?

enfim!
depois daqui, pra onde se vai?
quando se está no topo, quando não dá mais pra progredir,
a idéia é começar do zero?

ou o contemporâneo acaba mudando de contexto e sai do dicionário pra virar eterno

e aí, amigo,
o céu é o limite, acredite!
vamos romper a barreira do som
desafiar a lei da gravidade
vanguardar a teoria da relatividade dentro dum pó de guaraná.

vamos com Humberto velejar num mar de lama
e "se faltar o vento, a gente inventa".
isso é,
pra quem aguenta.

- e se eu quiser virar artista plástico?
- tem que ser um pouco louco?
- e se de médico e louco todo mundo tem um pouco..
- eu acho que agora entendo tudo
- ih, pois não deveria
- assim cê acaba nadando em círculos
- acho melhor treinar um balé!

e ainda acho importante amar as galinhas e se revoltar achando que elas tão sentindo frio ali, tadinhas, mas no café da manhã comi ovo mechido e vô nem mentir que frango assado é gostoso que só. Eu amo a Fauna eu amo a Flora, mas nessas horas eu não tenho nenhum dó.

nota de rodapé:
no entanto, apertem os sintos, estou sempre aberta a novas opiniões.
e por favor, não esqueçam, fiquem à vontade pra tentar me confundir.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça Artes Plásticas.


Clique na imagem para ampliar

sábado, 25 de outubro de 2008

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

adaptação de uma crônica marginal

nova exposição
- uma tal de Florencia Rodriguéz -
e por instinto,
procuro pela sala mais escura do museu
(é que eu não sei o que esperar).

começo pela sala à esquerda,
a primeira obra da direita,
sentido anti-horário.

de repende as paredes escuras
- entendo agora que são pra me ocultar -
e em silêncio, pra não ser percebida,
começo a observar
aqueles seres,
criando seus espaços:
florestas em concreto já rasgado.

medo?
não,
já que os cães não os temem,
as tartarugas também.

só gostaria de entender o por que dos cabelos,
de onde eles vêm
pra onde vão..

um susto:
os olhos deles me encontram
e de repente sou frágil,
- a estranha ali sou eu -
e consigo ouvir eles se questionando:
medo?
o que ela quer?
de onde vem
- e mais importante ainda -
pra onde vai.

uma angústia no peito,
procuro agora tentar me misturar,
mostrar que sou do bem:
- olhem, vou ouvir o silêncio de uma palestrante ali no corredor.

porém uma dor aguda,
filosófica
já me ocupou.
saio de lá menos humana.
passo por um espelho e não ajeito os cabelos,
como de costume.

"o dia vai morrer aberto em mim"

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

“Adaptação Margem” Florencia Rodríguez Giles

Teleirrealidade

Sem dúvida, trata-se de uma galeria, normalmente um espaço retangular, amplo, industrial e silencioso - o melhor lugar para deixar-se arrebatar pelas quinze imagens de Florencia Rodríguez. Esta jovem artista (Buenos Aires, 1978) surpreende e causa impacto com sua charmosa, sinistra e misteriosa proposta.

Como já dissemos, a galeria de arte é um lugar (um não-lugar) que, felizmente para alguns e infelizmente para outros, quase nunca sofre de amontoamento. Um lugar semelhante às pequenas residências nas quais Florencia Rodríguez situa uma ação. Nas quinze imagens, fotografias preto e branco manipuladas, que a artista apresenta na exposição intitulada “Adaptação Margem”, sempre acontece alguma coisa. A paisagem é a mesma em todas elas: um quarto abandonado, a pintura das paredes esfolada, o teto rachado e o vidro das janelas quebrado.

Sobre estas ruínas de edifícios modernos (a artista escolheu uma fábrica abandonada), a presença de uma natureza exuberante dá à imagem um primeiro gesto impossível, de una primeira ficção. Este fato poderia ser assimilável. Não o é, entretanto, a presença dos habitantes. Uns seres humanóides, vestidos com túnicas, pertencentes a um outro tempo e a um outro espaço. Alguns com penteados estranhos, outros completamente carecas. Têm em comum um certo medo; refletem em seus rostos o anúncio do perigo, o suspense de uma tragédia; mas, ao mesmo tempo, uma tranqüilidade inquietante, uma calma aterrorizante.

Em cada uma das quinze instantâneas, manipuladas digitalmente, esses seres oníricos realizam uma dramaturgia diferente. Não se comunicam através da fala. Há uma espécie de mímica ilógica e quase imperceptível que os une, um idioma diferente do nosso. Nós, os visitantes d’este mundo, observamos, também mudos, essa comunidade marciana. Vemos como se preparam para um desastre na escuridão, no refúgio de um edifício recolonizado. Somos espiões, testemunhas da luta deles graças à disposição coreográfica que Rodriguez alcança: um espaço central sempre vazio, indicado para ser ocupado pelo visitante. A técnica também busca o realismo. As imagens foram fotografadas de novo em uma tela. Portanto, a certeza de que estamos assistindo a uma imagem gravada em câmera nos faz pensar que a cena realmente aconteceu. Como se fosse algo capturado por uma câmera de segurança ou por um vídeo amador que congelou um acontecimento paranormal. Nas palavras da própria Florência, “interessa-me que as imagens estejam ainda mais mediatizadas e que suas procedências sejam duvidosas para fazermos associações com fotos de anomalias, de óvnis, deformações etc.”, uma espécie de teleirrealidade fantasticamente real e próxima.

O embrião da série “Adaptação Margem” se constitui de um conjunto de desenhos e palavras que começaram a tomar forma graças a um sexto sentido. Talvez Florência veja seres que realmente existem e só ela vê (lembrem-se da imagem mil vezes parodiada da criança escondida na cama – “há momentos em que vejo mortos”). A partir dos esboços e das vozes da artista, já em sua faceta sobre-humana, ela começou a “materializar, sem saber em que iria transformar: objetos, tartarugas, montanhas de cabelo humano, ferramentas, roupas, pedaços de madeira. Organizei o universo da comunidade e esperei”.

Fruto dessa espera são os seres (que ela chama de “comunidade”) com duas cabeças, penteados impossíveis, envoltos de uma atmosfera tão sólida que parece uma presença a mais.

Compreender esses estranhos habitantes de semblantes assustados, parecidos com humanos, acompanhados de cachorros, parece-nos complicado. A ficção sugere a fábula na mente do voyeur, que é parte determinante para finalizar a obra desta artista. Imaginamos a história dessa espécie de seita pagã, fugindo de algo ou de alguém, refugiando-se em casas abandonadas, escondendo-se também da luz, um brilho que cega, que cobre tudo lá fora e que ameaça ao fazer explodir a aparente paz interior.

Florência Rodriguez consegue renovar esse surrealismo narrativo. Desde o início da memória pré-histórica, o homem tem recorrido ao mito para entender o incompreensível. Desde os grafismos nas cavernas até as primeiras fábulas milenárias, passando pelas parábolas bíblicas e as anedotas protagonizadas pelos heróis da antiguidade. Ela cita várias referências; “os gregos, a ficção científica, as histórias místicas, minhas invenções”.

A invenção como arcobotante (construção exterior, nos edifícios góticos, que termina em arco de círculo e serve de apoio a uma parede ou abóbada) da vida real vem sendo utilizada na arte com fins bem distintos, geralmente ligando-se ao ato religioso, à chamada da fé. É com o surrealismo, no começo do século, que o criador dá asas à sua psique, ao seu inconsciente, e materializa seus sonhos em uma tela. Sem moralismos, os contos “irreais” tornaram-se alimento para a mente cinza do receptor, do expectador. A sugestão que emana da razão (ou de sua ausência) também tem sido explorada desde os primórdios do cinema, com vários filmes que, enquanto relatos da antigüidade, bem podiam anteceder às cenas de Florência.

Seja qual for o relato preciso da artista, assim como seu objetivo, o certo é que somos levados a observar perplexo suas magníficas fotografias e a estranha beleza que retratam. É impossível voltar a entrar em uma casa vazia sem ser atacado, ainda que inconscientemente, por algum dos fotogramas indeléveis dessa fabuladora do invisível.

Autor: Juan José Santos.


domingo, 5 de outubro de 2008

Cidade Partida..